Mostra de Vídeo - Programa da Gulbenkian

A Mostra de Vídeo do Programa da Gulbenkian Criatividade e Criação Artística chegou!

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O Caminho Inevitável da Comunidade Livre

A Microsoft finalmente anunciou que vai disponibilizar um conjunto de códigos-fonte de algumas das suas aplicações, numa operação de cosmética para se mostrar mais interactiva e participativa na comunidade de código aberto. Vindo de quem vem, esta aparente mudança de política apenas poderá ser encarada como uma forma de garantir o trabalho de centenas de programadores a custo zero, que lhes vão melhorar e estabilizar as aplicações, fazendo com que o Microsoft se mantenha na linha da frente, com a mesma política agressiva, e sem dar a ideia de serem os monopolizadores da informática.

Da mesma forma, a Adobe Systems acabou de lançar o Adobe Photoshop Express, uma página online que permite aos utilizadores fazerem o upload das suas imagens e acederem a um conjunto de ferramentas básicas de edição - cortar, melhorar, contraste, iluminação, etc.



Na linha da Microsoft, a Adobe Systems (que aplica uma filosofia de hegemonia informática semelhante à do monstro criado pelo Bill Gates) está assim a esforçar-se por aproximar-se dos utilizadores básicos, oferecendo um interface muito intuitivo e "bonito", na tentativa desesperada de conquistar mais clientes. Nada de mal nisto, é certo, mas a verdade é que existem um sem número de programas de edição de imagem (como o Gimp e o Paint.net, por exemplo) que permitem fazer tudo isso e muito mais (especialmente o Gimp, que trabalha com camadas como o Photoshop) a custo zero. Nem é pedido ao utilizador o registo como no Adobe Photoshop Express para poder aceder às ferramentas.

Estas começam a ser provas subtis de que a filosofia do Open Source e do freeware estão aqui para ficar, contra tudo e contra todos, estremecendo assim até os mais fortes competidores informáticos. Viva o poder do indivíduo... na sua força toda.

http://www.gimp.org
http://www.getpaint.net/

Bem Hajam

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De volta à casa adoptiva - portas do mar

28.03.2008

De regresso a Ponta Delgada, para a inauguração da nova sede do Partido Socialista, com pouco mais de três horas de sono e muito trabalho pela frente.

Chegar ao aeroporto, tomar o pequeno-almoço, conduzir em direcção à Universidade dos Açores e, como não podia deixar de ser, passar pela Avenida Marginal da cidade, junto ao mar, para contemplar esta maravilha de dia junto à marina.

No entanto... há que ficar pasmado. Decorrem ao mesmo tempo na marginal da cidade duas obras colossais: as Portas do Mar, da responsabilidade do Governo Regional, e o parque de estacionamento subterrâneo que a Berta Cabral idealizou para a maior cidade dos Açores. O que salta à vista é a desordem e a aparente confusão por ver duas obras megalómanas a serem efectuadas sensivelmente no mesmo espaço físico. A avenida está escavada para o fundo (cerca de seis a oito metros, mais metro menos metro) para a construção do parque, ao mesmo tempo que a superfície começa a crescer em direcção ao mar para as Portas da Cidade.
Criticadas por muitos, escusado será dizer que nesta sobreposição de empreitadas subjaz uma profunda picardia entre governo e autarquia que, de uma forma ou outra, acabará por beneficiar a cidade. De qualquer das formas, há que ter isto em mente: São Miguel é o pólo agregador de toda a evolução açoriana na sua mais voraz face capitalista e de betão.

A cidade torna-se irreconhecível, identificável apenas por pequenos marcos históricos. De resto, uma pequena Lisboa à escala regional.

Importa desenvolver novas mais valias no restante arquipélago para que o fosso entre Ponta Delgada e as restantes cidades dos Açores não seja equivalente à distância entre os Açores e o continente. Até porque as condições existem. Há que motivar e desenvolvê-las, apoiando e fomentando a novidade. Acima de tudo, a criatividade.

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O Dia Do Estudante - a educação da insubordinação

No passado dia 24 de Março assinalou-se o Dia do Estudante. Nem de propósito, a efeméride surge numa altura em que as televisões nacionais destacaram o incidente decorrido numa sala de aula que opôs, por um lado, uma professora que retirou o telemóvel a uma aluna, por outro, essa que exigiu, de uma forma bastante violenta, a devolução do aparelho.

Esta situação, de tal forma preocupante, acabou por lançar o debate que há muito pairava na mente de muitos: a questão da falta de respeito de alguns alunos pela escola e a falta de poder dos docentes para controlar atitudes dos alunos que, não raras vezes, resultam em actos de violência verbal e física.

Argumentação dispersa vinda dos mais diversos sectores dá-nos conta de que algo se passa de muito errado nas escolas e na sociedade em geral, para que se possa permitir que os alunos, utentes que são de um sistema de ensino massificado e aberto a todos, se dêem ao luxo de pensar que sairão incólumes de um confronto com aqueles que mais directamente administram a educação em Portugal: os docentes.

O resultado de políticas «frouxas» e «permissivas», que admitem a continuidade dos alunos no sistema apesar de recorrentes processos disciplinares ou atitudes de insubordinação; o resultado do «facilitismo» que permite que os alunos passem administrativamente os anos lectivos, numa ânsia de se atingir os indicadores europeus de absentismo escolar; o resultado directo do ataque social, personificado na pessoa da Ministra da Educação, que tão arrogantemente colocou a classe profissional dos docentes em «xeque» ao passar a ideia de que são profissionais pouco capazes, que temem a avaliação e que, no fundo, «não se querem chatear»; o resultado da falta de educação que os alunos deveriam receber em casa, numa altura em que os pais apenas se preocupam com a manutenção dos seus filhos(as) na escola durante o período normal de trabalho; o resultado do falhanço da escola como veículo de «boas maneiras» à moda antiga, uma vez que são muitos os que se lamentam por a escola se ter tornado tão pouco «disciplinadora»; entre outros argumentos apresentados para tentar explicar as causas do ponto a que chegámos.

A argumentação das razões deste fenómeno é, efectivamente, bastante heterogénea e aponta como responsáveis os mais diversos agentes sociais. Não obstante, existe um sentimento geral de que o problema está ora nos pais, ora nos filhos, ora na escola. E é este o sentimento que prevalece e que, comparando os casos de violência entre os alunos portugueses e outros, como por exemplo os nórdicos, acaba por nos fazer sentido: a sociedade como um todo (o somatório que é dos agentes individuais da família e da escola) está a falhar no seu papel disciplinador.

O problema não passa apenas pela escola, quando os alunos não são disciplinados em casa; da mesma forma que não é eficaz discipliná-los em casa quando na escola podem dar azo à sua raiva e frustração. O problema, em primeira e última análise, reside na sociedade. Em cada um de nós como agentes sociais e individuais de uma pertença comunitária.


Ao ver o vídeo que circulou na Internet e que acabou nas televisões nacionais, com a aluna agarrada à professora que não lhe devolvia o telemóvel, numa atitude irracional e quase animalesca de birra adolescente, não pude deixar de pensar na forma passiva como os restantes alunos assistiram à cena, e como o aluno que filmava o acontecimento se preocupava apenas em gravar tudo e que quer um, quer todos, nada fizeram para ajudar a professora. Ou refrear a aluna.

Este tipo de situação é sintomático de uma sociedade que se torna cada vez mais passiva, embora latente na sua violência, na qual já não se trata da falência de valores específicos mas da falência do papel comunitário de introdução de valores. Enquanto continuarmos a observar a desgraça dos outros através de um ecrã de televisão, indiferentes e entretidos com o espectáculo, como se nada daquilo tivesse que ver connosco, continuaremos a assistir à falência dos nossos valores humanos espelhada nos mais variados casos: a aluna que agride uma professora; o polícia que abusa da autoridade; o passageiro do metro que pontapeia uma rapariga por ser diferente, como no ano passado, em Espanha; o jovem que atira a garrafa de cerveja para o chão nas festas da cidade e ninguém lhe diz nada; entre outros exemplos, tantas vezes presenciados por todos nós e tantas vezes ignorados.

A reflectir na celebração do Dia do Estudante, não consegui deixar de pensar que a «escola para todos» só será verdadeiramente uma escola de todos, quando todos nós, pertencentes directa ou indirectamente à comunidade escolar, assumirmos o nosso papel comunitário e passarmos a agir condizentemente.

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O Dia Mundial da Água em Angra


O dia mundial da água foi assinalado, em Angra do Heroísmo, com a distribuição pelos Serviços Municipalizados de uns panfletos acerca da necessidade de se poupar a água, que a água é um bem precioso, etc. e tal.

Faz tudo parte do normal funcionamento e trabalho de um serviço público, com a acrescida preocupação da poupança de um bem cada vez mais ameaçado. A iniciativa é louvável pela intenção, mas de boas intenções estão alguns sítios cheios: o panfleto tem má qualidade de impressão, com um grafismo que me faz lembrar os meus primeiros trabalhos com o paint, e de compreensão duvidosa.

Ninguém percebe bem porque é que optaram por pintar de vermelho aquilo que supostamente deveríamos fazer e de verde aquilo que é prejudicial ao ambiente no que diz respeito ao consumo de água. Não se percebe mesmo. Admitindo que a ideia fosse a modernização de um conceito gráfico, a verdade é que não houve qualquer tipo de cuidado na elaboração de um panfleto que estará nas mãos dos munícipes.

E pensamos: será falta de dinheiro que faz recorrer aos trabalhos amadores dos trabalhadores da Câmara? Será mesmo a falta de qualidade dos serviços contratados? De qualquer das formas, a verdade é que as coisas são feitas assim: às três pancadas, sem qualidade, numa óptica de «para quem é, bacalhau basta», sendo certo que, mais cedo ou mais tarde, as pessoas se fartam.

E não me digam que isto são pormenores. São os pormenores que definem a grandiosidade de um todo.

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Vídeos dos Arcade Fire

Definitivamente, este será o futuro da Era Digital em que vivemos, aplicado que está à cultura dos vídeos musicais: a interacção e a integração de conteúdos entre a máquina e o homem. Viva a Era da Informática!
(thanx to Pedro - zurze.blogspot.com)

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Os (novos) Pecados Sociais da Igreja

Como já tinha referido, a Igreja Católica definiu mais alguns pecados capitais da era da globalização, entre eles a poluição, a manipulação genética e o uso de drogas. Pensava eu, no meu (in)corrigível egocentrismo, que estava praticamente livre de qualquer nova acusação porque, como expliquei, custava-me acreditar que chegasse a manipular geneticamente alguma coisa ou que a poluição que produzo fosse suficiente para me condenar. Abstenho-me de qualquer consideração acerca do uso de drogas porque, como fumo, bebo e tomo café, e acho que estas três substâncias são drogas (porque interferem com o estado normal do ser humano), prefiro não me pronunciar.

No entanto, representantes da nossa mui notável organização ocupacional católica vieram a público explicar aos leigos (eu e mais alguns, porque os outros são entendidos na matéria) que afinal os pecados são pecados sociais, não se aplicam directamente aos indivíduos. Isto é, o objecto de acção destes novos pecados são as sociedades em geral e, em última instância, a própria humanidade.

Pronto, agora é que a porca não só torce o rabo como vai tudo abaixo. Ou seja, por causa de uns investigadores portugueses que, num futuro embora longínquo mas não obstante possível, decidam manipular geneticamente alguma coisa, lá vou eu para o Inferno. Por ser português, viver em Portugal e os cientistas portugueses incorrerem num crime tão grave. Da mesma forma com a poluição: estão se calhar as refinarias a contribuir para a destruição do equilíbrio ecológico do planeta e estou eu, na minha insignificante vidinha, a ser lentamente condenado ao Inferno.





E mais... que é que eu posso fazer para não ser condenado? Escrever uma carta aos responsáveis a dizer que sou contra os pecados que eles cometem? Afirmar publicamente que me demarco da opção governativa do meu país em não condenar a manipulação genética?

Isto é muito complicado. Especialmente porque os pecados vêm também na forma de pensamentos: «eu pequei muitas vezes por pensamentos e palavras, actos e omissões» Pronto, está tudo lixado. No fundo, no fundo, vamos todos para o Inferno com uma pinta tesa.

Se eu pecar sozinho, vou para o Inferno; se eu viver numa sociedade que seja secular e pugne, por exemplo, pela manipulação genética para o desenvolvimento científico, pumba!... Inferno com ele. Se eu não disser nada, Inferno. Pior: se eu pensar em geneticamente modificar alguma coisa... tá lixado! Inferno.

Pela primeira vez desde que eu entrei em contacto com a ideia de Religião e de Céu/Inferno e toda a imagética do pecado, sinto que a minha condenação já não depende exclusivamente de mim: depende também da sociedade onde me insiro.

Pela primeira vez, posso pecar e ser condenado (julgado) pelos crimes dos outros; por crimes e pecados que eu não tive qualquer tipo de actuação.

Assim, definitivamente não vamos lá.

(agora a parte séria: a igreja deu, com estes novos pecados, um salto de gigante no seu âmbito de acção. Não só se imiscui e intromete na vida particular dos indivíduos, como agora alargou o seu discurso para uma orientação social. As sociedades passam a carregar o fardo do pecado se optarem por uma organização secular, científica, progressista e de desenvolvimento. A igreja católica encobre esta intencionalidade com o discurso de que estes novos pecados são considerados flagelos sociais e, como tal, devem ser publicamente condenados. De qualquer das formas, tratar-se-á sempre de uma orientação política sob o capuz da religião... bem hajam)

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JS Propõe Alteração à Lei dos Piercings


http://www.juventudesocialista.org/item.tech?id=795


(Embora seja uma posição pouco combativa, não deixa de ser pertinente...)

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Piercings e Tatuagens - uma falsa questão de regulamentação

O Partido Socialista apresentou na semana passada um projecto de lei que proíbe a aplicação de piercings, tatuagens e maquilhagem permanente a menores de 18 anos, ao mesmo tempo que proíbe a aplicação de piercings na «língua e no pavimento da cavidade oral», na proximidade de vasos sanguíneos, de nervos e de músculos e sobre quaisquer tipos de lesão cutânea.

O que à vista desarmada parece uma proposta regulamentadora e benéfica para a saúde pública, torna-se, após um exercício de análise mais profundo, numa imposição antidemocrática velada, que atenta contra a liberdade individual dos cidadãos.

Em primeiro lugar, não cabe a um governo legislar sobre a utilização de adornos de cariz pessoal, sendo que são da exclusiva responsabilidade de quem os usa. Não faltava mais nada termos poder sobre os brincos, colares, pulseiras e demais adornos com que as mulheres tão orgulhosamente se exibem, assim como demais adereços masculinos.

Sei que pode parecer tentador para alguns, mas há que imaginar o extremo fascista de não serem permitidos certos tipos de bigodes nem cortes de cabelo, ou calças, camisas e outros, tão factuais como as proibições que este diploma tenta impor.

Em segundo lugar, e sob o argumento confuso da saúde pública, o Partido Socialista confunde propositadamente a falta de regulamentação do sector com a opção individual que cada cidadão pode ter no que concerne à utilização de adornos.

É lícito a sociedade exigir que a colocação de piercings e a realização de tatuagens sejam feitas em ambientes condignos, com materiais esterilizados e hipoalergénicos para evitar a transmissão de doenças e o surgimento de lesões permanentes. No entanto, não é lícito, nem nunca o poderá ser, que uma sociedade proíba a realização de um piercing quando a responsabilidade recai unicamente sobre quem o quer utilizar.

O problema da saúde pública apenas se coloca caso esta proposta seja aprovada (o que estou convencido de que não acontecerá), uma vez que, sendo proibido, os piercings na língua e nos genitais serão feitos em condições não controladas, nos chamados «vãos de escada», contribuindo e muito para a propagação de doenças e o aparecimento de lesões irreparáveis.

Mais a mais, ainda tenho curiosidade em saber se teremos uma brigada-tipo-asae a pedir às pessoas para abrirem a boca e baixarem as calças para se certificarem de que não foram utilizados adornos proibidos. E se forem? Que tipo de sanções estarão previstas na proposta do governo para «castigar» os prevaricadores? Cortam-se os membros? Prende-se os criminosos?

Concedo que esta é uma questão aparentemente secundária para algumas pessoas. No entanto, não nos podemos esquecer de como têm sido geridos os diplomas de «saúde pública» que o governo nacional nos tem imposto: a desregulamentação da lei do tabaco (de tal forma confusa que a opção é não optar por espaços de fumadores); a proibição de importação e criação de raças de cães «potencialmente» perigosas (sem consulta prévia dos directamente interessados e sem fundamentação especializada), e, agora, esta aberração antidemocrática.

Analisando ainda a indefinição do que se entende por «proximidade de vasos sanguíneos, de nervos e de músculos e sobre quaisquer tipos de lesão cutânea», resta-nos a certeza de que o nosso corpo é todo ele músculos, vasos e nervos e que, numa visão preciosista, a colocação de piercings será em última análise proibida em qualquer parte do corpo humano.

É por isso que, como cidadãos que somos, activos e directamente co-responsabilizáveis, se torna cada vez mais necessário mantermos um espírito crítico na análise deste tipo de questões. É que, sob o manto misterioso da regulamentação (quando na realidade não regulamenta, proíbe), o governo controla cada vez mais aspectos da nossa sociedade que não lhe cabe a ele controlar.

É necessário discutir estas questões e fazer pressão sobre quem nos representa para impedir a sua aprovação, sob pena de nos tornarmos, a muito curto prazo, em pinguins alinhados, iguais na cinzentez da nossa existência, a caminhar todos em marcha para onde o governo nos quiser levar. Sem no caminho fazermos o que quer que seja que fuja ao padrão estabelecido.

George Orwell haveria de gostar de ver este ano e o Huxley decerto regozijar-se-ia com o vislumbre deste admirável governo novo.

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Tradição

Embora não seja de forma alguma um defensor extremista dos direitos dos animais, nem contra a realização de touradas de rua (como aquelas que se fazem na ilha Terceira), acho que este vídeo está não só muito bem realizado como congrega a argumentação que nunca deverá ser utilizada para manter o que quer que seja: a tradição.



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Tarde



Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia

Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo morria.

Quando à boca da noite surgiste na tarde qual rosa tardia.


Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a boca pedia

e na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que morria

Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia

Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia.

Ary dos Santos
(foto: Renato Brandão
http://olhares.aeiou.pt/rbrandao)

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Os Novos Pecados

A Igreja católica anunciou esta semana a existência de mais três pecados a juntar a sua extensa lista: o pecado da poluição, da manipulação genética e do uso de drogas. Ou seja, os pecados já existiam, mas a Igreja agora é que os tornou publicamente «pecaminosos».

A primeira questão que me passou pela cabeça foi «ufa, da manipulação genética já me livrei». Ou seja, qual é a probabilidade de eu, um simples professor, vir mais tarde a ser condenado às chamas do Inferno por cometer o crime de manipulação genética? Muito poucas, na minha modesta opinião. Daí ficar mais satisfeito.

Da mesma forma, a questão da poluição é bastante duvidosa e preciso de ler o documento publicado pelo Vaticano com mais atenção. Isto é, será que todas as missas que ouvi, os pecados que evitei cometer no passado - por omissões, actos ou palavras - vão todos por água abaixo simplesmente porque me desloco de carro para o emprego? Será que esse tipo de poluição conta? E o fumo do tabaco, também? Estou completamente à vontade moralmente relativamente a atirar papeis para o chão: nunca o faço. Mas já não posso dizer o mesmo de atirar as beatas dos cigarros para o chão e o fumo para o ar. Será que estas duas coisas (o carro e o tabaco) serão suficientes para ir para o Inferno?

Agora, relativamente às drogas... bem, isto já é um caso bastante bicudo. Vamos a ver, esta consciencialização de que o consumo de drogas é pecado tem retroactivos? É porque se tem, parece-me que haverá muitos pedidos de transferência e burocracia entre os que já foram para o Céu e não foram julgados por esse pormenor. Por outro lado, se não é uma lei retroactiva, caramba, isso não é justo. Já não basta o Governo que muda as regras do jogo a meio, vem agora a igreja dizer «ah, e tal, a partir de agora, fumar charros é pecado. Pronto, se não vai um homem para o Inferno por todos os que fumou, todos os que fumou faz com que daqui para a frente tenha ainda mais vontade de os fumar.»

Um homem nunca está descansado.

Daqui a nada, comer também é pecado. Ups, esqueci-me da gula.

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A Espiral Descendente do Metaleiro (ou a inadiável constatação da mutabilidade do mundo)

O verdadeiro metaleiro quando nasce não faz a mais pálida ideia de que é um metaleiro. Começa por ser um rapaz igual aos outros: até aos seis anos não é autónomo, faz chichi nas cuecas, tem medo do escuro, não gosta de estar sozinho, briga com as raparigas e adora andar perto dos rapazes para poder brincar aos polícias e aos ladrões, aos cowboys e aos índios, por vezes até aos médicos e às enfermeiras.


Durante a escola primária, o metaleiro é um rapaz normal, parecido com os restantes rapazes da escola. No entanto, algo o distingue. Ora a forma de falar, ora a maneira de andar, os jeitos afeminados, o interesse pela música ou por outras formas de estar na vida que não as normalmente aceites pelos restantes rapazes. Ou então é marrão. Um grande marrãozinho que adora estudar e fazer os papás felizes porque o filho é muito muito esperto, embora não sociável, é muito inteligente e tira boas notas na escola primária, no 2º ciclo e, por vezes, até ao final do 3º ciclo.


No entanto, o despertar para a “metalicisse” ocorre por volta do oitavo ano de escolaridade. Quando os restantes alunos estão a passar de pintainho para galo, o metaleiro está ainda a pensar se aquilo que tem pendurado entre as pernas serve para fazer desenhos na areia ou para quê? A partir do oitavo ano, normalmente, as coisas começam a ficar feias para o típico metaleiro.


Em primeiro lugar, não consegue arranjar namorada. Começa então a perceber que algo de errado nele. Há algo – o acne, a roupa que os pais lhe vestem, a maneira como ele fala com as outras raparigas, o andar, qualquer coisa – que o impede de iniciar ou tentar iniciar uma vida de namoro ou sexo profícua ou, pelo menos, minimamente activa.


Em segundo lugar, os amigos, pelas mais diversas razões que ele não consegue identificar, de alguma maneira sobrenatural, conseguem arranjar sempre alguma rapariga com quem passar o tempo. E relegam-no para segundo plano. Ele tenta perceber o que se passa, mas há algo que o impede de ver a realidade e perceber aquilo que lhe falta para poder singrar no universo melindroso dos arranjos amorosos.


E a vida dele segue como dantes – sozinho, com boas notas, mas sem grandes amigos nem namorada que se vislumbre. É então que algo o atinge. Pode ser das mais variadas formas, mas o resultado é sempre o mesmo, e a conclusão a que o metaleiro chega é também a mesma: há gajos que ouvem música esquisita mas que, por obra ora da roupa preta que usam, ora pelo paleio, ou pelas letras agressivas das canções, conseguem sempre… mas sempre sempre sempre… arranjar uma namorada. Mas não são umas namoradas quaisquer… são namoradas podres de boas e que não têm vontade de serem “namoradas para casar”, apenas para curtir.


Normalmente as namoradas dos gajos que ouvem músicas esquisitas e violentas, obscuras, de que ninguém nunca ouviu falar, são as gajas mais jeitosas do liceu. Ou então, se não o são, tornar-se-ão em brevíssimos períodos lectivos. Habitualmente do final do terceiro período do oitavo ano para o primeiro período do nono.


E é aqui que a vida do metaleiro verdadeiramente muda: começa a procurar músicas dos “heavy metal” ou da banda chamada “death metal” e tudo o que tenha que ver com o desconhecido, o violento, a repulsa da normalidade, do hábito. Começam a deixar crescer o cabelo (normalmente), ou ganham a coragem suficiente para fazerem um piercing muito marado e muito à frente dos outros. Passam a vestir de preto, inteiramente de preto, e, mais recentemente, passam a sacar todo o tipo de música pesada que conseguem da net.


E as raparigas começam a surgir. Os anos vão passando, e a sua reputação de gajos duros, entendidos na música pesada, de preto, com piercings, cabelos grandes e tatuagens, vai finalmente crescendo. Começam a lamentar-se imenso do mundo, da sociedade, das pessoas, que ninguém os compreende, que são anjos caídos de um outro paraíso, que a dor faz parte da sua vida, que gostariam de beber sangue humano, que fizeram pactos de sangue com alguém, que leram o livro de são “spriano”, muitas vezes sem saberem quem foi Anton La Vey, que os pais não os compreendem, que os professores não os compreendem, ninguém os compreende… nem as namoradas, que tentam desesperadamente fazer qualquer coisa por aquela alma atormentada e desnorteada.


Mais tarde, a vida continua, e eles vão-se mantendo no mesmo sítio, fazendo as mesmas coisas, bebendo nos mesmos cafés, com a mesma cara carrancuda, com as mesmas roupas escuras, com a mesma atitude anti-social com que começaram. Embora sintam bem lá no fundo que a sua vida não está a ir a lado nenhum, continuam a lamentar-se. Mas normalmente, o verdadeiro metaleiro, quando chega a esta altura, tornou-se um verdadeiro entendido na matéria de metalicisse e de música metal. Já não é qualquer coisa que o satisfaz, não é qualquer música, não é qualquer banda, não é o que toda a gente ouve. Habitualmente, o metaleiro quando chega a este estádio, refugia-se, embora paradoxalmente, no exacto sítio de onde tentou sair em primeiro lugar: a solidão.


Nesta altura, o metaleiro não faz parte de uma qualquer banda de garagem que aspira tornar-se uma grande banda de metal. Não, o metaleiro já evoluiu muito, já não vai para a frente do público, no moshpit, abanar a cabeça e fazer sinais ridículos de cornos (mesmo que não os tenha) às bandas que desfilam no palco. Não, nesta altura o metaleiro assiste aos concertos junto à cabine de som, vestido sempre de preto, com os braços cruzados, em atitude contemplativa, acenando de vez em quando a cabeça a um ou outro acorde original mas, no cômputo geral, mostra-se insatisfeito, entediado, farto do idêntico em toda a parte.


Tudo é a mesma merda: as bandas são uma merda, a sociedade é uma merda, as pessoas são falsas e hipócritas, o mundo está perverso, deus não existe, nada existe a não ser o metaleiro e a sua metalicisse. Nada mais está para provar o que quer que seja. A ideia de deus é negada à mais extrema consequência: risos em funerais, desaprovações de choros, alegadas tentativas de suicídio que nunca chegam a lado nenhum (pena), namoros acabados, recomeçados, acabados e finalmente recomeçados – mas com raparigas dez anos mais novas do que eles. Também elas fascinadas, como ele já outrora o fora, com a pose negativista, a atitude de desprezo, de arrogância, de conhecimento, de anti-tudo-o-que-não-é-metal.


Passam a detestar a norma musical dentro dos metaleiros. Quem ouve músicas de bandas conhecidas é automaticamente banido do círculo pseudo-intelectual em que o metaleiro está inserido ou, nas restantes hipóteses, criou para se inserir a si próprio. Só as músicas que eles ouvem – eles, e uma pequeníssima minoria – são dignas de se ouvir. Só se alguém conhecer aquela segunda versão do lado b de um single que nunca foi editado em lado algum, e que só uma centena de pessoas e ele é que conhecem, é que poderá, talvez, e aqui residem muitas reticências, só assim, talvez é que esse alguém poderá aspirar a fazer parte desse círculo restritíssimo.


A vida entretanto passa. A música muda, os tempos mudam, as pessoas mudam, as raparigas facilmente impressionáveis tornam-se objectos proibidos para os não-pedófilos, e tudo chega ao mesmo: a vida é nada, nada é nada, deus é nada. Tudo é um grande, negro e vazio NADA.


Então, normalmente, o metaleiro, nos últimos momentos da sua fúnebre e entediante vida, chega a uma conclusão. Não interessa qual. Mas consegue percebê-la. E então, num último acto de desespero, de refúgio mental e religioso, o metaleiro tenta encontrar algum conforto na figura que sempre desprezou, como o filho pródigo voltando a casa: olha para o céu negro da noite tentando encontrar uma resposta, um qualquer tipo de justificação, de entendimento. Mas apenas consegue descortinar o negro da roupa que usou sempre ao longo da sua vida. E morre amargurado, sem perceber porque é que nunca evoluiu.

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A Ditadura Parental - ou a revolta das restrições

Se há coisa que ainda me lembro com alguma saudade, talvez até com aquele sentimento de Paraíso Perdido, é a liberdade com que gritava da porta de entrada de casa para a minha mãe que estava, ou no jardim ou na cozinha: «mãe, vou brincar para a rua!». Não dizia para onde ia, com quem ia estar, o que iria fazer, dizer ou sonhar. Era apenas isso - vou brincar para a rua. Como se a rua fosse um novo universo onde me sentia tão à-vontade como quando me encontrava em casa; um prolongamento da minha existência de criança.
Quando penso nisto, juntamente com o chegar a casa (vindo da rua) sujo, esbaforido e suado, apenas me vem à lembrança o olhar reprovador da minha mãe e as suas palavras menos simpáticas: «olha como tu vens, pareces um desgraçado... vai lá lavar essas mãos para vires jantar».
Agora, nesta nossa contemporaneidade de comunicação e interacção contínua, esse universo parece-me demasiadamente longínquo. Tão longínquo quanto um sonho de criança que se esvai no caminho do ser adulto. Não só pelo advento do telemóvel e das comunicações móveis a preços irrisórios; apenas pela certeza de que hoje em dia não há a confiança no presente nem no futuro que havia antigamente. Os adultos são cada vez mais desconfiados das intenções das crianças, ora porque se perdeu o respeito e a moral, ora porque o perigo espreita em qualquer esquina. Os adultos são cada vez mais crianças assustadas e as crianças cada vez mais adultos à força.
Passando das lembranças da infância para a informática dos nossos dias, a grande arma do "Windows Vista" era a capacidade de os pais finalmente conseguirem controlar tudo aquilo a que a as crianças acedem na Internet, o correio electrónico que recebem, as pessoas com quem falam, etc. Isto tudo poderia ser visto como, à primeira vista, bastante positivo. Mas a verdade é que, por detrás desse manto de faciidade, esconde-se uma realidade bem mais espinhosa: a ditadura parental que, desde cedo começa a incutir nos mais jovens a necessidade da restrição.
Como se a restrição fosse, não um mecanismo pessoal de auto-controlo e sobrevivência social do próprio indivíduo, mas algo que deverá ser obedecido sob pena do desmoronar da sociedade tal qual a conhecemos. Ora, se bem nos lembramos, a falta de restrição é, talvez, o melhor mecanismo para a criação de restrições. Naturais, entanda-se, não baseadas no livre juízo de pais que, quer na internet quer na vida real, não têm contacto com a efectiva realidade do mundo em que vivem as suas crianças.
Por isso o Vista é um flop. Por isso as leis são contornadas. Por isso viva a pirataria desgarrada na informática.
Enquanto a restrição for arbitrária (ou, pior, servir interesses corporativos) a revolta será sempre mais violenta.

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Intro

Como é óbvio (ou se não o é, passo a explicar), o título deste blogue foi vertido directamente para o português, a partir de uma música intitulada "bullet with butterfly wings", dos Smashing Pumpkins. Surge o blogue da necessidade de publicar - dentro da amálgama que é a diária adição de conteúdos na blogosfera - algumas ideias, pensamentos e curiosidades/referências/links que eu possa considerar de interesse público ou pessoal. Será público sempre que aquilo que eu escrever tenha que ver com as pessoas que (eventual e muito remotamente) possam vir a ler este blogue; pessoal serão as mensagens, imagens ou ideias que derivam da minha vontade de as manter suspensas nesta realidade virtual.

Mais tarde explico a concepção do título.

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