E.U.A. - Comunidades

Nos dias 5, 6 e  7  de Dezembro, reuniu-se em São José da Califórnia, o grupo de trabalho informal de jovens, do qual sou mandatário, para se trabalhar em prol de uma maior aproximação entre os Açores e as Comunidades, nomeadamente no que diz respeito às associações espalhadas pela nossa Diáspora.

Não comentando aqui com detalhe o medo que tenho de voar e o quanto me custou aceitar viajar entre Terceira/Lisboa; Lisboa/Frankfurt; Frankfurt/Denver; Denver/San José num só dia, a verdade é que a reunião saldou-se muito positiva e os resultados, na minha modesta opinião, são bastante interessantes.

Mas a razão deste post prende-se com a percepção das comunidades portuguesas (em especial as açorianas) nos Estados Unidos da América. Existem comunidades espalhadas por todos os estados, é verdade, e também cada comunidade acabou - ao longo do tempo - por se ir dispersando na criação de associações que congregassem no mesmo espaço os membros dessas comunidades. Desde Casas dos Açores, Casas do Benfica, do Sporting, Centros de Convívio, etc., a verdade é que desde os 1800s, que os portugueses têm vindo a criar um espaço muito próprio e integrado na sociedade norte-americana, mantendo, no entanto, elementos muito característicos da sua cultura.

Onde antes se via uma emigração não-qualificada, altamente religiosa e tradicionalista, que tentou manter inalterados os valores da terra que foi obrigada a abandonar por falta de condições de vida. Compreende-se, portanto, que a visão que os emigrantes das primeiras gerações têm dos Açores seja ainda uma muito apegada ao passado, filtrada por um olhar de saudade e de embelezamento, normal em todas as evocações de memória do ser humano.

E daí que o Governo Regional dos Açores tenha acabado por fazer a vontade a tantos emigrantes, oferecendo-lhes não só as condições para a manutenção das actividades culturais que costumavam realizar nas ilhas, como também agraciando-os com visitas e representações oficiais do governo, trazendo consigo artistas que congregavam a continuidade dessa mesma visão saudosa dos Açores.

No entanto, e graças às mudanças operadas nos últimos doze anos nos Açores, a realidade do arquipélago foi-se alterando, foi-se modernizando e adaptando às exigências do mundo contemporâneo (por vezes bem, outras nem tanto, é certo) de tal forma que aqueles emigrantes que continuam a visitar regularmente os Açores detêm uma visão da realidade mais actual e condizente com o avanço do nosso arquipélago. 

E os que não mais voltaram a casa, ou cuja última viagem foi há mais de doze anos, acabam por cristalizar essa visão dos Açores, transportando-a depois para as manifestações sociais, culturais e religiosas que são realizadas na Diáspora da América do Norte. São estes, ou grande parte destes, os emigrantes que detêm o poder  (senão todo, pelo menos parte) das associações de que fazem parte. Como tal, logicamente, assiste-se a um desfazamento entre o que é a realidade açoriana contemporânea e a visão das coisas destes emigrantes.

Até aqui tudo bem, no sentido que a saudade e o embelezamento do passado não trará grandes males ao mundo. Mas a verdade é que a maioria destas associações e organizações começam a deparar-se com grandes dificuldades, nomeadamente na angariação de jovens para a pertença e participação nas suas actividades. Associações há que organizam festas em que os jovens presentes (salvo as excepções, é claro) têm menos de dezoito anos. Porquê? Porque os pais os obrigam a participar e a assistir às festividades. Mas, à mínima hipótese que têm de não voltar a pôr os pés na Casa dos Açores da sua zona, desaparecem e perdem a única porta de informação acerca do seu passado e contacto com o património histórico português (e açoriano, no enfoque deste post).

Ora bem, a emigração para o norte da América está praticamente estagnada e, quando a há, é feita por pessoas com maiores qualificações cujo intuito das suas viagens se prende maioritariamente com trabalhos de investigação, bolsas de leccionação e outras demais actividades muito definidas no tempo e, portanto, voláteis.

Há a necessidade (e as pessoas encarregues das associações dizem-no) e a urgência de se definir novos modelos de actuação e imprimir nas comunidades açorianas da Diáspora o sentido de integração dos mais jovens nas suas associações (e respectivas direcções), até porque a não renovação implica necessariamente a morte.

Existem muitos grupos de trabalho e associações cuja função é precisamente aumentar a interacção entre os jovens e as associações criadas pelos emigrantes, numa «passagem de testemunho» que se tem revelado cada vez mais essencial e vital à manutenção das estruturas criadas ao longo do tempo.

Se antes, por alguma dificuldade de integração na comunidade norte-americana, os nossos emigrantes açorianos sentiram necessidade de criarem associações para promoverem a interacção entre os seus, agora, fruto da globalização, do acesso à informação e da qualificação dos filhos dos emigrantes, o interesse dos jovens nestas associações é pouco ou nenhum.

Contudo, para que se opere uma mudança de verdade no seio da comunidade portuguesa, e mais especificamente na integração e renovação dos jovens nos movimentos associativos da Diáspora, é necessário dar-se espaço para que os jovens sintam as associações como parte deles e aceitem trabalhar nelas. E é condição vital que os mais velhos abram de uma vez por todas os olhos e os seus horizontes, e apostem nesta nova geração não como um acto de bondade ou caridade, mas como um investimento no futuro e uma aposta na continuação e renovação.

Denver, Colorado, 7 de Dezembro, 12:50

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