A Geração dos «Peter Pan»'s

As transformações culturais e sociais que o mundo tem vindo a sofrer nas últimas décadas reequacionaram os tecidos empresariais, as interacções sócio-culturais, as trocas comerciais internas e externas, e colocaram em questão conceitos que eram tidos por todos como relativamente estáveis.

O aumento da esperança média de vida obrigou a uma reestruturação dos limites de idade das etapas da vida de um indivíduo. Hoje, é-se jovem até aos 35 anos, consoante a classificação que se quer adoptar, e trabalha-se até à idade com que antigamente se gozava há muito a reforma.

Com a melhoria das condições de vida nos países industrializados chegaram também maiores exigências de qualificação para o primeiro emprego que aumentaram em muitos anos a idade com que os jovens saem de casa de seus pais.

Actualmente, após um período cada vez mais alargado de especialização e de qualificação, os jovens enfrentam um mercado de emprego altamente competitivo e qualificado, que os obriga a uma maior dependência em face dos progenitores. Assim, o abandono da casa dos pais faz-se cada vez mais tarde, o que comporta maiores encargos às famílias e, consequentemente, uma redução do número de descendentes.

Não obstante, ao saírem de casa dos pais mais tarde, a contribuição que esses jovens poderiam ter para a economia imobiliária, para o mercado de emprego, para a qualificação e desenvolvimento da sociedade faz-se também mais tarde. A emancipação dos jovens torna-se cada vez mais tardia e o papel que os mesmos assumem na sociedade é adiado e hipotecado.

Contudo, e para que se possam emancipar, são necessárias condições sociais que permitam a aquisição de uma primeira habitação, é necessário existir uma certa estabilidade ou garantia de empregabilidade que permitam aos jovens a assunção do risco com autonomia e confiança num futuro que, embora incerto, é indiscutivelmente deles.

Enquanto essa emancipação não ocorre, a economia torna-se refém dos que se encontram no mercado de trabalho, contribuindo ao mesmo tempo para os que ainda não trabalham e para os que já deixaram de o fazer.

Para que ocorra essa emancipação é necessário que os jovens assumam o risco do papel que terão que desempenhar na construção do seu futuro. É urgente a redefinição do conceito de «emprego para a vida», de «pertença de um qualquer quadro», da antiga ideia de «funcionário público e estável». O mundo está menos estável e mais mutável, mais flexível, assim como os empregos que oferece. É preciso que o empreendedorismo faça parte da nossa sociedade como garante das condições de risco para a emancipação dos jovens e entrada no mercado social e económico.

Essa entrada é, per se, um factor de inovação e de mudança. Um factor que contribuirá para o desenvolvimento social, económico e cultural da nossa sociedade. Para tal, há que redefinir conceitos, de acompanhar a moldura presente de empregabilidade e perspectiva de futuro. No entanto, são igualmente necessárias condições para que tal ocorra. As condições são da responsabilidade dos governos. A vontade, dos jovens.

Enquanto esta emancipação não se verificar, viveremos numa geração em «pausa» e hipotecada, que padece daquela que é a síndrome de Peter Pan. Tal como conhecemos da história do Walt Disney, e mais tarde adaptada à terminologia psicológica, Peter Pan era aquele «eterno miúdo» que se recusava a crescer, que não queria ser adulto, que queria ser eternamente jovem.

Pois bem, enquanto os jovens não sentirem que podem arriscar a serem adultos, os pais vão ter muito que se preocupar e pouco dinheiro para gozar da reforma, reféns que estarão da manutenção da qualidade de vida dos filhos que não conseguem sair de casa.

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