A Falta de Educação de Jardim
Não é a primeira vez que o líder do Governo Regional da Madeira, o dr. Alberto João Jardim, assume atitudes públicas que roçam a falta de decoro e até mesmo a falta de educação. Seja nos seus habituais comentários separatistas em relação ao continente português, seja na atitude depreciativa com que trata os representantes eleitos da oposição ao seu governo, o líder madeirense tem vindo a revelar-se um homem cada vez mais desbocado e descontrolado.
Muito recentemente João Jardim ultrapassou a barreira do «roçar» de falta de educação e passou já a fasquia daquilo que deveria ser tolerado
A conivência surge quando o Presidente da República Portuguesa, o dr. Cavaco Silva, não só aceita os termos disparatados do líder madeirense, como também tenta desvalorizar o caso, remetendo-se ora ao silêncio ora à contemplação da maravilha do estado de tempo que fazia na Madeira.
O conhecimento prévio, que torna ainda mais grave esta cedência, surge do facto de não haver visitas oficiais programadas sem agenda. E a agenda que deverá nortear a visita do PR à Madeira foi decerto enviada com antecedência para tomada de conhecimento. Não há, portanto, um efeito de surpresa e de reacção de momento.
Este é um sinal preocupante para a democracia portuguesa, uma vez que sempre se realizaram sessões solenes nos parlamentos quando há uma visita oficial do Presidente da República. Aconteceu nos Açores, deveria ter acontecido na Madeira. E para além de preocupante, é verdadeiramente inaceitável que o mais alto dirigente do país prescinda desta sessão solene tendo como única base de justificação o suposto medo de que se envergonhasse com o «bando de doidos» que é, segundo a opinião de Jardim, os deputados da oposição da Assembleia Legislativa da Madeira.
Há que ter em conta que a simples adjectivação de «doidos» é não só depreciativa como altamente ofensiva para os deputados da oposição, legitimamente eleitos pelo povo em sufrágio democrático, e estende-se igualmente ao povo que neles votou, uma vez que a responsabilidade da eleição recai em última análise sobre ele.
Com esta recusa, Jardim justificou, mais uma vez, porque é que tantos são aqueles que olham com preocupação a (des)governação social-democrata da Madeira. É porque, ao impedir a realização da dita sessão solene, Jardim está simultaneamente a impedir o pleno exercício da democracia, recusando o direito à liberdade de expressão daqueles que têm uma visão de liderança e governo diferentes da do seu presidente. A Assembleia Legislativa é, por excelência e por definição, um lugar de democracia, um lugar de liberdade de expressão,
Porém, este é o clima que se respira na Madeira: um clima de repressão, de intolerância e de asfixia da democracia e da liberdade de expressão. Na realidade, na Madeira vive-se um clima de preocupante autismo político e de franca falta de educação democrática, que nos deverá preocupar a todos, portugueses, e mais especialmente a nós, açorianos.
Tal como a Madeira, vivemos numa região autónoma e prezamos, acima de tudo, esta autonomia de que dispomos face ao Governo da República. No entanto, torna-se necessário esclarecer (as vezes que forem necessárias) que a realidade social da Madeira em nada se assemelha à dos Açores e que, ao contrário de lá, nós por cá ainda vivemos em democracia e assim continuaremos por muito tempo.
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