Os Buracos da Democracia - sobre Mário Machado

Não há nada mais entusiasmante do que acordar e ligar a televisão para ver e ouvir nas notícias da manhã as declarações contidas e muito ponderadas do ultra-nacionalista Mário Machado. Nas suas declarações, o racista e xenófobo alterou um pouco o seu discurso, falando de prisão preventiva injusta e questões de liberdade de expressão e de individualidade.

O que me preocupa não é somente o facto de existirem pessoas agressivas, intolerantes, xenófobas e racistas. É claro que tal facto é deveras preocupante e merecedor de atenção, nem que seja pela protecção de ideias futuras e da manutenção de uma certa «paz» social que pugna pela liberdade, igualdade e inclusão social de todas as raças, credos e convicções.

O que me fez mais «espécie» neste caso foi a mediatização excessiva de que Mário Machado e os seus iguais foram alvo e que, agora, vêm usar o argumento de estarem a ser privados da liberdade de expressão como justificação para o julgamento de que são alvo. Mais, Mário Machado afirmou ser um bode expiatório e estar a servir de exemplo a uma sociedade e justiça que não lhe dá o direito de falar.

É aqui que se abre o primeiro buraco da democracia. Fala quem quer, como quer, da forma que quer, sem olhar a quê, a quem nem como.

Dito assim é o prenúncio de um movimento anti-democrático. Mas não, de forma alguma. Que fique bem claro que eu sou um acérrimo defensor da liberdade de expressão e de imprensa assim como dos direitos e liberdades do indivíduo.

No entanto, não nos podemos esquecer que, no caso específico do Mário Machado e dos seus seguidores e semelhantes, não está apenas em causa o conteúdo do que se fala: está também em causa a consequência desse falar. É que o resultado prático do falar racista é a intolerância, a ignorância, o medo e a violência dos «nossos» contra os «outros», como se não houvesse uma sociedade global, cidadãos do mundo nem democracia como ideal máximo a que todos nós aspiramos.

Mário Machado e os seus são atentados vivos à democracia, são os ratos que roem o queijo sem que nos dêmos conta, disseminando a sua mensagem anti-democrática e retrógrada, apoiados em mecanismos sociais de liberdade de expressão e livre iniciativa, que foram estes criados pelo sistema democrático per se.

Faz-me confusão e medo ouvir um racista, xenófobo e agressor, falar com tamanha calma, usando os meios de comunicação social que a democracia lhe providencia, para se fazer de vítima perante uma suposta justiça parcial. Se calhar, como eles fazem a justiça também pelas suas próprias mãos, parcial então por definição, também para eles deveríamos fazer justiça parcial.

Não, estou a divagar. O que se deveria era não dar atenção a estas bestas humanas, não lhes dar tempo de antena nem imagens na televisão, não lhes dar voz nem meios de comunicação de imprensa livre. Deveríamos, isso sim, votá-los ao abandono e ao esquecimento. Talvez assim, gradualmente, a sociedade se esqueça de que já viveu alturas em que um homem odiava outro homem por este não ser igual àquele.

Como se soubéssemos de antemão o que é ser igual e o que é efectivamente diferente.

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