O Apoio à Criação Jovem
Na senda da publicação da reportagem «Lugar para os Jovens Criativos», na edição de 4 de Maio da revista do Diário Insular, foram abordadas problemáticas de incentivo à criação jovem que se têm tornado cada vez mais importantes e potencialmente enriquecedoras para o desenvolvimento da nossa sociedade.
Penso ser pouco discutível que o papel dos organismos públicos na promoção cultural deverá ser o de, a par da programação cultural que lhes é inerente, dotar a sociedade de infra-estruturas e mecanismos que permitam o apoio e divulgação dos novos valores criativos da sua sociedade, especialmente os das camadas mais jovens.
Contudo, assistimos ainda a uma reserva e inércia na assunção deste papel, especialmente na sua vertente mais experimental e contemporânea. A verdade é que os responsáveis pela disponibilização dessas infra-estruturas (algumas das quais já existem) e pela promoção dos mecanismos de apoio e divulgação dos mais jovens ainda não se aperceberam do imenso potencial que tal papel poderá desempenhar no desenvolvimento da sociedade. E do potencial das camadas mais jovens nesse papel.
Continuamos a assistir à recusa e à resistência à inovação, disfarçada sob o manto difuso e discutível de uma suposta «qualidade» que, refém dos cânones instituídos da açorianidade e cultura tipicamente açoriana, se mistura muitas vezes com o gosto pessoal de quem desempenha cargos de responsabilidade. A confusão entre «qualidade» e «gosto» permite uma escolha muito mais definida e confortável, é certo. Aquilo de que se gosta, apoia-se. O resto, não. Até faz sentido.
Apesar de tudo, torna-se impreterível discutir o papel que os espaços públicos de cultura deverão desempenhar no seio da nossa sociedade. Deverão esses espaços encarregar-se apenas da importação de valores culturais externos, sob a certeza da comercialidade e de casa cheia, por vezes assumindo custos altíssimos? Deverão preocupar-se somente com a promoção e disponibilização de valores comerciais instituídos da açorianidade – com as eternas baleias, o folclore, a bruma, e demais categorias açorianas de cultura, nas quais a geração contemporânea de jovens não se revê? Ou, por outro lado ainda, deverão estes espaços públicos permitir a divulgação à sociedade daqueles que são os valores não-instituídos e não-canonizados e, como tal, reféns de uma assistência diminuta? Ou deverá o papel dos espaços públicos ser o da harmonia – tanto quanto possível – entre o comercial instituído (importado e regional), ao mesmo tempo que se disponibilizam espaços e mecanismos que permitam a promoção de novos valores culturais (importados e regionais)?
Para mim, considero ser esta última a opção mais sensata. Os espaços públicos são, por definição, pertença da sociedade
Ao encontrarem tantas barreiras durante tanto tempo à promoção da sua arte, é natural que a tendência dos jovens artistas seja a da resignação. Não obstante, esta não poderá ser a única desculpa para a não persistência da apresentação dos projectos culturais da juventude. Torna-se cada vez mais urgente que os jovens artistas assumam o seu papel social, que o debatam e reivindiquem, sob pena de o estado das coisas se manter estático e inalterado por ainda mais tempo.
O Labjovem – I Concurso Regional de Jovens Criadores – promovido pelo Governo Regional dos Açores e pela Direcção Regional da Juventude, assim como a aposta da Câmara Municipal da Praia da Vitória na construção da Academia de Juventude são dois exemplos de como existem visões estratégicas e vontade de mudança. Para além disto, existem infra-estruturas e espaços públicos suficientes para que os jovens desenvolvam em pleno as suas capacidades e as revelem ao público – o grande interessado na diversidade da oferta cultural.
Enquanto os jovens artistas não assumirem o seu papel social e não decidirem lutar pelo espaço cultural, que lhes é, em última análise, pertença natural, as coisas continuarão assim: à espera da mudança.
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