O Regresso do Filho Pródigo

No passado dia 23 de Abril foi inaugurada uma exposição sobre a vida de José Saramago, que pode ser visitada no Palácio da Ajuda. Intitulada «A Consistência dos Sonhos», esta exposição conta a história da vida do escritor, com o auxílio de manuscritos, primeiras edições, fotografias, e demais parafernália de objectos que poderão elucidar o comum dos leitores acerca da vida e obra do único Nobel de literatura português.

O único Nobel de literatura português. Um escritor a quem foi recusada a participação num prémio internacional pela sua obra O Evangelho Segundo Jesus Cristo, pelo então ministro da cultura do PSD. Essa obra, considerada por críticos internacionais como uma das suas obras-primas, tinha tanto de inovadora como de polémica e, para não ofender as mentes católico-cristãs-puritanas, o governo de então achou por bem não colocar a obra à consideração do júri que atribuiria o prémio.

Saramago decide, não por isto mas também, viver longe de Portugal, em Lanzarote. Um ilha. Como as nossas, bastiões de autonomia e de distância em face do continente.

Partiu amargurado. Partiu triste com o seu país e com a falta de reconhecimento da sua obra. Mas partiu ainda mais triste por ver que a censura não parte de organismos mas da mediocridade da mente de alguns governantes. O que lhe deu ainda mais força na sua crítica social-religiosa-moral patente na sua obra.

Entretanto ganhou o Nobel. E foi recebido em braços, a felicidade estampada nos rostos das pessoas que viam naquele senhor a personificação da internacionalização da literatura portuguesa a seguir a Camões ou Pessoa. Era ele. O D. Sebastião da Literatura que regressava a casa, para se desdobrar em conferências e em entrevistas, em reportagens e notícias, em doutoramentos honoris-causa e demais prémios. Para além do prémio monetário do Nobel.

E voltou para Lanzarote.

Agora regressa com uma exposição sobre a sua vida, quando conta com 85 anos e um livro ainda a ser escrito. Quando a genialidade da sua escrita e o alcance da sua intervenção foram já internacionalmente reconhecidos e, finalmente, por Portugal. Quando o Memorial do Convento passou a ser parte integrante do programa do 12º ano de escolaridade.

E o Primeiro-Ministro diz: «Quero que ele saiba que nós gostamos dele, que nós o estimamos e que temos muito orgulho em tudo o que fez pela Língua Portuguesa e por Portugal».

E Saramago responde: «obrigadinho».

Mais nada. Obrigadinho. Como dizemos quando estamos a fazer alguma coisa de importante ou cansativa e as pessoas à nossa volta não nos ajudam; como quando estamos a trabalhar e os nossos colegas estão a olhar para o dia de amanhã. Dizemos: obrigadinho.

Perante a tristeza das palavras de José Socrates. Homónimo apenas no primeiro nome, limitado literariamente como já demonstrado ao longo da sua governação, não consegue dizer nada mais do que «gostamos dele», «estimamos» o homem, temos muito «orgulho em tudo o que fez...»

Mais nada.

A isto o que se responde sem se ser indelicado?

Pois bem, diz-se «obrigadinho». É-se irónico. Nada mais.

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